13 Setembro 2018
Nesta quinta-feira de manhã, chega ao Vaticano a cúpula da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos. O cardeal de Washington, Donald Wuerl, acusado, está pronto para renunciar.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por L’HuffingtonPost.it, 12-09-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Donald Wuerl retorna para Roma pela segunda vez em uma semana, pronto para renunciar ao seu mandato como arcebispo de Washington. Não se trata de um efeito do “relatório Viganò”, mas o resultado do trabalho do procurador-geral da Pensilvânia, Josh Shapiro, no qual Wuerl foi fortemente criticado pela gestão dos casos de abuso sexual quando era arcebispo de Pittsburgh.
Wuerl já foi recebido há duas semanas pelo Papa Francisco de forma privada e sem que a Sala de Imprensa vaticana noticiasse o encontro. A Wuerl, que tinha posto o seu mandato nas mãos do pontífice, Francisco pediu para retornar à capital estadunidense e para debater com os padres da sua diocese, o que ocorreu no fim de semana do Dia do Trabalho nos Estados Unidos.
Nessa terça-feira à noite, o cardeal divulgou uma carta em que anuncia o seu retorno a Roma, e já está claro que ele está prestes a deixar o cargo (do qual ele também já era demissionário formalmente há dois anos).
A decisão de Wuerl é contemporânea com a chegada ao Vaticano da cúpula da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, capitaneada pelo cardeal Daniel Di Nardo, que será recebida pelo papa na manhã desta quinta-feira. DiNardo pediu uma audiência com Francisco logo após o relatório Shapiro, mas também exigiu publicamente, em um comunicado, a abertura de uma investigação séria sobre as acusações feitas pelo ex-núncio nos Estados Unidos, Carlo Maria Viganò, sobre o caso de Theodore McCarrick.
“Esclarecimentos” foram anunciados na segunda-feira passada pela Santa Sé, no primeiro dos três dias de reunião do C9, o chamado Conselho da Coroa do pontífice. Mas a última iniciativa do papa contra a pedofilia chegou no fim da cúpula, de cujos trabalhos não participaram os cardeais Pell (envolvido em dois processos na Austrália por supostos abusos de menores que ele teria cometido pessoalmente) e Errázuriz (ex-arcebispo de Santiago do Chile, que também poderia ser enviado a julgamento, neste caso, por acobertamento de abusos).
Uma iniciativa sem precedentes. Em Roma, entre os dias 21 e 24 de fevereiro de 2019, foram convocados os presidentes de todas as Conferências Episcopais do mundo, para discutir como resolver “de uma vez por todas” os escândalos de pedofilia, como relatado nesta quinta-feira, na revista La Civiltà Cattolica, dirigida pelo Pe. Antonio Spadaro, no texto do encontro “privado” do papa com os jesuítas irlandeses.
A mancha se expande, depois de ter tocado a Austrália, Chile, Irlanda, Estados Unidos, e também retorna à Alemanha. São 3.677 os menores abusados sexualmente por 1.670 padres ou religiosos no país entre 1946 e 2014, de acordo com dados de um estudo independente encomendado pela Conferência dos Bispos da Alemanha, que será apresentado no dia 25 de setembro à Assembleia Episcopal de Fulda e antecipado nessa terça-feira pela revista Spiegel e pelo jornal Zeit.
Os abusos, portanto, dizem respeito a 4,4% dos clérigos alemães nesse período de tempo. Iniciado em 2014, esse estudo foi realizado por mais de três anos por uma equipe das universidades de Mannheim, Heidelberg e Giessen, e examinou 38.156 dossiês que 27 dioceses entregaram aos pesquisadores. Apenas 122 autores de abusos foram entregues à Justiça civil. Outros 1.023 agressores abusaram uma única vez, 782 cometeram entre dois e 10 abusos, 96 são verdadeiros abusadores em série com dezenas de abusos, e 969 dos menores abusados eram coroinhas.
Na Alemanha, o escândalo dos abusos estourou em 2010, na sequência das denúncias do diretor do colégio Canisius de Berlim, o jesuíta Klaus Mertes (que anos atrás definiu a crise como o “11 de setembro da Igreja alemã”, termo retomado nessa terça-feira pelo arcebispo Georg Gänswein, secretário do Papa Bento XVI).
No verão de 2017, um relatório revelou que 547 crianças tinham sido vítimas de maus tratos, violências físicas ou também sexuais de 1945 a 1992 em Regensburg, cidade onde o irmão de Ratzinger atuou como diretor do coro. Agora, chegam os dados oficiais no nível de toda a Alemanha. É a primeira vez que uma Conferência Episcopal encomenda um estudo sobre os abusos sexuais ocorridos em nível nacional.
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Dados chocantes sobre a pedofilia também na Alemanha. Papa convoca um comitê de crise - Instituto Humanitas Unisinos - IHU